Secretaria de Saúde Municipal e Estadual, no Rio Grande do Norte e publicada no Jornal. Atentem-se aos números:
” Médicos, companheiros de profissão, como descemos….
Quando meu pai, médico, aposentou-se há nove anos, disse que estava fazendo
aquilo porque a profissão médica havia chegado ao fundo do poço e não
agüentava ver a classe descer mais do que aquilo.
Nesses nove anos os salários e até o CH (coeficiente de honorários), criado
para proteger o trabalho médico, desvalorizou 308,68% se comparado ao
salário mínimo ( e nós pagamos salários baseados no mínimo aos
funcionários); desvalorizou 73,47% pelo IBG que mede o índice de preços ao
consumidor/inflação), índice este que sabemos ser maquiado pelo Governo
Federal.
Se “dolarizarmos” nossas perdas, elas chegam a 351,81%. Como
descemos…
Inicialmente fizemos cortes no orçamento, depois aumentamos a carga de
trabalho, passando a dar mais plantões.
Cortamos férias, nos tornamos “clientes especiais” dos bancos,
inicialmente eventuais, hoje c ativos.
Não temos tempo sequer para nos organizar. Como descemos!
Não podemos lutar sequer na Justiça, pois o Judiciário jamais votaria a
nosso favor, mesmo que estejamos certos.
Os juízes já votaram seu próprio aumento salarial e, se votassem o nosso,
poderia não sobrar para eles.
Em 1994 um médico recebia R$ 755,00 e um promotor público R$ 1.300,00. Hoje,
o médico recebe os mesmos R$ 755,00 e o promotor mais de R$ 8.000,00.
Que diferença de responsabilidade ou de um curso faz com que ocorra tal
disparidade? Sem falar de vereadores, auditor fiscal e outros cargos que,
devido ao seu poder de autogestão dos salários foram evoluindo
exponencialmente, enquanto nós retrocedemos.
Como descemos! E a culpa, de quem é? De nós mesmos! Nós, que deixamos a
coisa ocorrer sem reagir.
Talvez devido à celebre frase: “Medicina é sacerdócio!”. Mas
até os padres, hoje em sua maioria vivem bem, comem bem, dormem bem, têm carro,
vestem-se bem, viajam.
A culpa é nossa por termos aceitado dar plantões em condições mínimas! Sem
água?
Compramos água.Comida ruim? Compramos comida.
Não há material? Improvisa Tudo em prol da continuidade do serviço e do
paciente.
A culpa é nossa por termos criado uma cooperativa médica que pode proteger a
todos, menos ao médico.
Veja uma diária hospitalar hoje e há oito anos. Quem protege quem? Os planos
de saúde aprenderam que não temos tempo para reclamar e pagam o que querem,
quando querem e se quiserem. Como descemos!
Chegamos no nosso carrinho, cara de cansados, exaustos, na verdade,
maltrapilhos e somos atendidos pelo gerente do plano de saúde: bem dormido,
gravata, perfumado e de carrão zero às nossas custas. Burros de cangalha é o
que somos!
O Governo também aprendeu que não temos força para cobrar o que é de
direito: retira gratificações, suspende pagamentos. É como se fôssemos isentos de
obrigações financeiras. . Coitados de nós! Como descemos!!!!
Temos medo de pedir um orçamento a um pintor ou pedreiro. Estamos apertados
para pagar o colégio dos nossos filhos.
Achamos que se continuarmos assim, vamos acabar pagando para trabalhar.
Estamos enganados! Já estamos pagando, pois as noites em claro nos renderam
doenças e problemas de saúde que nossa aposentadoria do Estado de R$ 400,00
somados ao INSS de R$ 800, 00, mais talvez uma previdência privada, não
conseguem cobrir.
Pagamos, porque a nossa ausência em casa na busca de manter um “padrão
de vida”,não tem preço. Nossos filhos estão à mercê de drogas e maus
exemplos, devido ao abandono.
E como dizer aos nossos filhos para estudarem, pois vale a pena ? Eles vêem
o exemplo do pai que estudou tanto, fez tantos cursos, passou tantos
concursos e tem uma qualidade de vida tão ruim. E aí vem o “Big
Brother”, as no velas e pessoas que vivem melhor, até de forma ilícita. É difícil
fazê-los compreender que os que nos mantêm em nossa profissão, o que nos alimenta a
alma e o espírito são duas coisas: o amor pela prática médica e a
incapacidade que temos de reverter todo o investimento que fizemos à mesma.
Se o medo é de pagarmos para trabalhar, pode ficar ciente de que já estamos
fazendo isso! Acho que deveríamos ser mais radicais e não aceitarmos
imposições, pois sabemos que estamos totalmente certos !
Temos que ganhar melhor para atendermos melhor a nossos pacientes.
Temos que dormir bem, para atendermos melhor a nossos pacientes.
Temos que estudar e nos atualizar, para atendermos melhor a nossos
pacientes. Queira ou não, tudo isso depende de remuneração !”
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